segunda-feira, 15 de março de 2010

O livro mais genial de todos os tempos

Quando tinha quase 14 anos, me mudei para a Holanda com minha família, onde meu pai iria fazer seu pós-doutorado. Voltamos um ano e meio mais tarde, em julho de 2007. Nem preciso dizer que estávamos (ou pelo menos, eu estava) com as malas transbordando e quase ultrapassando o limite de peso. Como é que minha bagagem tinha aumentado tanto em um ano e meio? eu ficava me perguntando...


Além de biscoitos, chocolates e outras guloseimas holandesas que não podiam faltar em casa (meu pai trouxe um verdadeiro estoque de hagelslag pra durar uns seis meses - tudo bem que no ritmo em que a gente consumia acabou em menos de quatro...) também trazia na minha mala um monte de tranqueira, e entre essa tranqueira estava um livro. Um livro velho, com as páginas já bem amareladas, entre outros quatro ou
cinco no mesmo estado.

Eram livros que tinha ganhado de uma amiga, que disse que não os leria mais. Nunca gostei muito desses livros de aparência antiga, só a cara já me dava desânimo para ler, e olha que eu gosto muito de ler, mas nunca considerei aquela frase muito a sério: "não julgue um livro pela capa". Para mim a capa é exatamente uma das coisas mais importantes, é geralmente o que define se eu vou comprar um livro ou não.

Mas eu já tinha lido todos os livros que estavam na minha estante, e não planejava comprar um novo tão cedo, por isso resolvi me aventurar naqueles livros embolorados. Dei uma olhada nos títulos e mostrei para minha mãe, que reconheceu um deles e disse que já o tinha lido: The picture of Dorian Gray ou, na sua versão traduzida, O retrato de Dorian Gray. Minha mãe disse também que se se lembrava bem tinha gostado muito do livro.

Já na primeira página me encantei com o estilo do autor. Ainda não estava muito acostumada a ler livros em inglês, sendo que um dos únicos tinha sido Avalon High, de Meg Cabot, ou seja, nada que se possa chamar de literatura... Mas esse livro, apesar de muito bem escrito, não é tão difícil de ler e tem uma história clara sem muitos personagens.

É claro que isso nem de longe torna o livro tedioso. O retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde, é um verdadeiro thriller, com personagens marcantes e um desfecho chocante (que eu é claro não vou publicar aqui...). O que mais me cativou foi a má índole da maioria das personagens, especialmente de Dorian, que com o passar do tempo se torna cada vez mais corrupto e criminoso. Esse certamente não é um livro para os 'socialistas' de plantão, que se sentirão indignados com o modo como Dorian e seu amigo Lord Henry falam sobre a classe operária, sendo eles mesmos membros da aristocracia.

Não que eu concorde com as ideias das personagens, claro, mas o tom satírico da narrativa torna quase impossível não sentir uma certa simpatia por essas almas corruptas. Um livro extremamente instigante, cheio de suspense e ação, mas também com muito conteúdo. Um livro que nos faz sentir um frio na espinha, mas que também nos faz pensar, sobre a vida e sobre a juventude, e que nos mostra que no fim sempre temos que pagar por nossos crimes... Uma obra-prima!